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As Letras da Lei: doze contos legais

06/06/2013

Quanto um grupo de operadores do direito se reúne para fazer literatura, de cara sabemos que estamos lidando com amadores, nos dois sentidos da palavra: dedicam-se, por amor, a uma atividade que não são profissionais.
 
Embora todos vivam sobretudo do que escrevem, nenhum deles vive de escrever ficção - na verdade, são autores de peças não apenas não-ficcionais, mas também peças marcadas pela funcionalidade: como procuradores, advogados ou juízes, atuam num meio em que a escrita tem um objetivo claro: sugerir, evitar ou decidir a mediação e a intervenção do poder do Estado na vida de réus, clientes ou partes.
 
Essa introdução serve para dizer que, em casos semelhantes, nem sempre o desejo de fazer literatura resulta em boa literatura. E, nesse sentido, a leitura de As letras da lei, conjunto de contos de diversos autores organizados por Pierre Moreau, apresenta um resultado impressionantemente positivo.
 
Claro que há contos melhores e piores, mas a média é muito alta. E não há história ruim: o processo que se mistura a uma lembrança erótica em "O ombro de A.", de Eros Grau; o passeio por Paris de Eduardo Muylaert em "O número 36"; a transitoriedade da vida e da morte em "Todas as Manhãs", de José Alexandre Tavares Coelho; o peso do anel de rubi de Miguel Reale Júnior; a violência do interrogador expressa por Luís Francisco Carvalho Filho; o divórcio outonal de Luciana Gerbovic; o humor de Luiz Kignel em "Sentença é lei entre as partes"; a memória da tortura em "Guerino", de José Gregori; a "quase normalidade" da vida de juiz, no texto de José Renato Nalini; as rivalidades da sociedade em "Firma", de Marcelo S. Barbosa; a ideia de abandono, em "Flor", de Pierre Moreau; e as palavras retorcidas pela culpa em "Indestino", de Denis Borges Barbosa.
 
Os doze contos são todos interessantes individualmente, mas não chegam a formar um conjunto. Há estilos diversos, e como os textos são curtos, uma transição rápida entre eles. Isso facilita a leitura do pequeno volume, uma vez que a ordem dos contos não precisa ser seguida. Lidos aleatoriamente, os textos são tão interessantes quanto lidos em sequência.
 
A experiência profissional, o dia-a-dia do direito, deixa, claro, marcas. Elas se expressam numa espécie de busca de sentido para situações cotidianas, em que a alienação do trabalho busca respostas que aproximem nomes e situações da vida real. No conto do ex-ministro do STF Eros Grau, por exemplo, há a ruptura da suposta impessoalidade dos julgamentos; na história do ex-ministro da Justiça José Gregori, a busca de humanidade, coroada por uma citação bastante conhecida, e portanto não muito original, numa figura que personifica, tanto pelo que fez (torturador) quanto pelo que faz (açougueiro), a desumanização.
 
Dois autores já conhecia, por conta da vida profissional de crítico literário e editor: Carvalho Filho, autor do livro de contos Nada mais foi dito nem perguntado (ed. 34), e Luiz Kignel, do romance policial A morte tudo resolve (Alameda). Deles, já esperava coisa boa. A surpresa veio dos demais.
 
Serviço:
As Letras da Lei
Autor: Pierre Moreau (org.) Eduardo Muylaert, Eros Grau, José Alexandre Tavares Guerreiro e outros
Editora: Casa da Palavra
Quanto: R$ 35,00

Fonte: Haroldo Ceravolo Sereza - Última Instância

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